A condição dos guias judaicos do tempo de Cristo, prefigura a condição de muitos das igrejas dos nossos dias. Quem são os instrumentos que Deus escolhe para comunicar a verdade ao mundo. A renúncia do eu, condição essencial para ser transformado por Deus numa nova criatura e possuir o carácter de Cristo.
"Jesus disse uma parábola: "Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido velho, pois que romperá o novo e o remendo não condiz com o velho." Luc. 5:36. A mensagem do Batista não devia ser entremeada com a tradição e a superstição. Uma tentativa de misturar as pretensões dos fariseus com a devoção de João, só tornaria mais evidente a rotura em ambas.
Nem podiam os princípios do ensino de Cristo ser unidos com as formas do farisaísmo. Cristo não cobriria a rotura feita pelos ensinos de João. Tornaria mais distinta a separação ente o velho e o novo. Jesus ilustrou posteriormente este fato, dizendo: "Ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão." Luc. 5:37. Os odres de couro usados como vasos para guardar o vinho novo, ficavam depois de algum tempo secos e quebradiços, fazendo-se então imprestáveis para tornar a servir ao mesmo fim. Por meio dessa ilustração familiar, Jesus apresentou a condição dos guias judaicos. Sacerdotes, escribas e principais se haviam fixado numa rotina de cerimônias e tradições. Contraíra-se-lhes o coração como os odres de couro a que Ele os comparara. Ao passo que se satisfaziam com uma religião legal, era-lhes impossível tornar-se depositários das vivas verdades do Céu. Julgavam a própria justiça toda suficiente, e não desejavam que um novo elemento fosse introduzido em sua religião. Não aceitavam a boa vontade de Deus para com os homens como qualquer coisa à parte deles próprios. Relacionavam-na com méritos que possuíam por causa de suas boas obras. A fé que opera por amor e purifica a alma, não podia encontrar união com a religião dos fariseus, feita de cerimônias e injunções de homens. O esforço de ligar os ensinos de Jesus com a religião estabelecida, seria em vão. A verdade vital de Deus, qual vinho em fermentação, estragaria os velhos, apodrecidos odres das tradições farisaicas.
Os fariseus julgavam-se demasiado sábios para necessitar instruções, demasiado justos para precisar salvação, muito altamente honrados para carecer da honra que de Cristo vem. O Salvador deles Se desviou em busca de outros que recebessem a mensagem do Céu. Nos ignorantes pescadores, no publicano na alfândega, na mulher de Samaria, no povo comum que O escutava de boa vontade, encontrou Ele Seus novos odres para o vinho novo. Os instrumentos a serem usados na obra evangélica, são as almas que recebem com alegria a luz a elas enviada por Deus. São esses Seus instrumentos para a comunicação do conhecimento da verdade ao mundo. Se, mediante a graça de Cristo, Seu povo se torna odres novos, Ele os encherá de vinho novo.
O ensino de Cristo, conquanto representado pelo vinho novo, não era uma nova doutrina, mas a revelação daquilo que fora ensinado desde o princípio. Mas para os fariseus a verdade perdera sua original significação e beleza. Para eles, os ensinos de Cristo eram, a quase todos os respeitos, novos; e não eram reconhecidos nem confessados.
Jesus mostrou o poder dos falsos ensinos para destruir a capacidade de apreciar e desejar a verdade. "Ninguém", disse Ele, "tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho." Luc. 5:39. Toda a verdade dada ao mundo por meio de patriarcas e profetas, resplandeceu com nova beleza nas palavras de Cristo. Mas os escribas e fariseus não tinham nenhum desejo quanto ao precioso vinho novo. Enquanto não se esvaziassem das velhas tradições, costumes e práticas, não tinham, na mente e no coração, lugar para os ensinos de Cristo. Apegavam-se às formas mortas, e desviavam-se da verdade viva e do poder de Deus.
Foi isso que se demonstrou a ruína dos judeus, e será a de muitas almas em nossos próprios dias. Há milhares a cometer o mesmo erro dos fariseus a quem Cristo reprovou no banquete de Mateus. Em lugar de abandonar certa idéia nutrida, ou rejeitar algum ídolo de opinião, muitos recusam a verdade descida do Pai da luz. Confiam em si mesmos, e dependem da própria sabedoria, e não compreendem sua pobreza espiritual. Insistem em ser salvos por alguma maneira em que realizem alguma obra importante. Quando vêem que não há nenhum modo de introduzirem o eu na obra, rejeitam a salvação provida.
Uma religião legal nunca poderá conduzir almas a Cristo; pois é destituída de amor e de Cristo. Jejuar ou orar quando imbuídos de um espírito de justificação própria, é uma abominação aos olhos de Deus. A solene assembléia para o culto, a rotina das cerimônias religiosas, a humilhação externa, o sacrifício imposto, mostram que o que pratica essas coisas se considera justo, e com títulos ao Céu, mas tudo é engano. Nossas próprias obras jamais poderão comprar a salvação.
Como foi nos dias de Cristo, assim se dá agora; os fariseus não conhecem sua necessidade espiritual. A eles se dirige a mensagem: "como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego e nu; aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestidos brancos para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez." Apoc. 3:17 e 18. Fé e amor são o ouro provado no fogo. Mas no caso de muitos se obscureceu o brilho do ouro, e perdeu-se o tesouro precioso. A justiça de Cristo é para eles um vestido sem uso, uma fonte intata. A esses é dito: "Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te pois de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti verei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres." Apoc. 2:4 e 5.
"Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus." Sal. 51:17. O homem se deve esvaziar do próprio eu, antes de ser, no mais amplo sentido, um crente em Jesus. Quando se renuncia ao eu, então o Senhor pode tornar o homem uma nova criatura. Novos odres podem conter o vinho novo. O amor de Cristo há de animar o crente de uma vida nova. Naquele que contempla o autor e consumador de nossa fé, o caráter de Cristo se há de manifestar." O Desejado de Todas as Nações, págs. 226-228.
É inútil procurar o auxílio divino para vencer este ou aquele mau hábito, se não estivermos dispostos a abandonar esse pecado acariciado, se não estivermos prontos a esvaziar-nos de nós mesmos, a desistir de tudo isso por amor a Cristo.
Se o fizermos, estaremos a enganar-nos a nós próprios! Pois Ele só poderá ajudar-nos quando nos entregarmos completamente.
Ver: http://1assimdizosenhor.blogspot.com/2009/03/entrega-total.html
Sem comentários:
Enviar um comentário